A mostra é composta de filmes de realizadores africanos e diaspóricos, que vivem ou viveram a experiência do exílio, e voltam à África, a terra natal. Confrontados ao lugar original, os cineastas arriscam-se nas fronteiras do documentário e da ficção, das nações e das identidades, para compor obras que, reunidas, demonstram a força inventiva do cinema e do documentário num contexto de afirmação da autonomia política e de constante reconstrução de si. As imagens e sons que se alinhavam no conjunto desses filmes fazem erigir uma África atual, em ebuliação, suscitando reflexões renovadas sobre o continente e sua diáspora, provocando também novos elos afetivos com a chamada “terra mãe”.
A Vida sobre a Terra / La vie sur terre (Mali/Mauritânia/França, 1998, 62min.)
De Abderrahmane Sissako
Dia 03/09, às 19h30
Nas vésperas do ano 2000, Abderrahmane Sissako, cineasta mauritaniano que vive na França, decide voltar a Sokolo, uma pequena aldeia do Mali, para reencontrar seu pai: “Querido pai, você ficará um pouco surpreso, talvez mesmo preocupado, em receber uma carta minha. Eu me apresso em dizer que tudo vai bem e espero que você também esteja bem. Contrariamente à mensagem que lhe enviei por Jiddou, uma mudança importante faz com que eu esteja em breve com você em Sokolo: o desejo de filmar Sokolo, a vida, a vida sobre a terra, o desejo também de partir. Ainda mais que daqui a pouco nós estaremos no ano 2000 e que nada mudará para melhor, você sabe disso melhor do que eu…”
E não havia mais neve…/Et la neige n’était plus… (França/ Senegal, 1965, 22min.)
De Ababacar Samb Makharam
Dia 04/09, às 10h
Um jovem estudante senegalês regressa da França. O que ele aprendeu? O que ele esqueceu? Qual via ele irá escolher para o contato com as novas realidades africanas? Os problemas que se colocam na juventude africana expostos com franqueza, coragem e humor.
Férias em casa/ Vacance au pays (Camarões/ França /Alemanha, 2000, 75 min.)
De Jean-Marie Teno
Dia 04/09, às 10h
Uma viagem ao Camarões é a oportunidade, para o diretor, de se interrogar sobre a noção de desenvolvimento e de modernidade na sociedade camaronense, que prega que o que vem do ocidente é moderno, enquanto o que é produzido localmente é arcaico e condenado ao desaparecimento.
“O fato de viver no exterior permite, quando voltamos ao nosso país, que nos demos conta da dimensão das transformações. No nosso país, nós não nos damos tanto conta da mudança. As próprias pessoas mudam e não se dão conta.” (Jean-Marie Teno)
Edouard Glissant: um mundo em relação/Edouard Glissant: One World in Relation (Estados Unidos da América, 2010, 52 min.)
De Manthia Diawara
Dia 04/09, às 19h30
Em 2009, Manthia Diawara, com sua câmera, segue Edouard Glissant no navio Queen Mary II, numa jornada transatlântica de South Hampton (Inglaterra) ao Brooklyn (Nova Iorque). A poética meditação continua na Martinica, o lar nativo de Edouard Glissant. As extraordinárias viagens resultaram na produção de uma biografia intelectual na qual Glissant desenvolve sua teoria da “Relação” e o conceito de “Tout-monde”.
Edouard Glissant é um dos mais importantes pensadores contemporâneos. Nos anos 80, sua teoria da “creolização”, diversidade e alteridade, desenvolvida no livro “O Discurso Antilhano (1981)”, foi considerada como seminal para a emergência do estudos do multiculturalismo, das políticas das identidades, das literaturas minoritárias e do Atlântico Negro. Nos anos 90, ele desenvolveu os conceitos de “Poética da Relação” e “Tout-monde”, para os quais a ideia de “Relação” é percebida como uma entidade autônoma, movendo entre objetos e lhes fornecendo energia, poesia e diferença. No livro “Filosofia da Relação”, Glissant usa o conceito para mediar novos significados para globalização, caos, violência, igualdade e justiça.
Em busca da África/ In Search of Africa (Estados Unidos da América, 1997, 26 min.)
De Manthia Diawara
04/09, às 19h30
Em 1996, o cineasta e escritor Manthia Diawara, que vive em Nova Iorque, volta para a Guiné, trinta e dois anos depois que ele e sua família foram expulsos do recém libertado país. Apesar dos anos transcorridos, Diawara espera ser recebido como um membro da comunidade, e, perplexo, ele descobre que não o é.
Si-Gueriki, a rainha mãe / Si-Gueriki, la reine mère (Alemanha/Benin/França, 2002, 62min.)
De Idrissou Mora Kpai
Dia 06/09, às 10h
“Meu pai faleceu e com ele parte da minha infância, minhas certezas, minhas crenças e meus sonhos”. Depois de dez anos de ausência, Idrissou Mora Kpai volta ao Benim para rever sua família. Contra qualquer expectativa essa viagem vai ser a ocasião de descobrir aquela que desde sempre, nada mais fez do que servir a seu pai: sua mãe. Herdeira do título real de seu marido, ela tornou-se uma autoridade na comunidade Wassangari, ao norte do país.
Rapidamente, junto com a co-esposa do finado, corrigem a imagem do pai ideal que o jovem cineasta guardou na memória. Diretas e lúcidas, as duas denunciam, não sem humor, um sistema patriarcal do qual foram também vítimas as irmãs e sobrinhas do diretor.