Curta disputa Mostra Competitiva do VI CachoeiraDoc
Como surgiu a ideia de trabalhar com referências suas, tanto musical quanto cinematográfica, para fazer esse filme?
Isso é muito natural pra mim, porque desde o meu primeiro filme trabalho com o que se chama found footage, que é uma espécie ou de gênero ou de procedimento do cinema que trabalha com material de arquivo. Então, está dentro da minha trajetória trabalhar com arquivos de filmes ou de sons, vem dentro de um trajeto que já dura mais de 25 anos. Desde o terceiro, filme sempre há uma tônica de trabalhar com material de arquivo.
O filme faz dois convites ao expectador: o primeiro é um convite à nostalgia, através da música e da imagem, e o segundo é um convite através da montagem, para que o expectador complete aquela dança. Ambos os convites nos apresentam a imagem de uma terceira pessoa, que não conhecemos, porém cria-se um afeto por ela. Como você trabalhou essas relações?
Na verdade, esse é um filme de luto. De epifania e, ao mesmo tempo, de luto. Esse foi o filme que me permitiu continuar fazendo cinema. Durante a montagem de um filme que eu estava fazendo, essa pessoa morreu. Aí eu pensei que não ia mais conseguir fazer filme, nem ia mais querer, não fazia sentido. Esse filme é o primeiro filme que eu faço sem essa pessoa. Vou responder primeiro protocolarmente: o nome dele é Bernardo Vorobow, é um nome importantíssimo do cinema brasileiro, programador e curador de cinema. Ele dirigiu e programou a Sociedade Amigos da Cinemateca (SP) do final dos anos 60 até meados dos anos 70, depois criou o setor de cinema do Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, depois criou e dirigiu o setor de difusão da Cinemateca Brasileira. É um homem de arquivo, programador de cinemateca, isso protocolarmente.
Ele é o amor da minha vida. E, a partir do meu segundo filme, ele foi sempre o coprodutor. Só que durante a montagem do meu longa-metragem sobre Santos Dumont, ele morreu. Aí eu falei: “Bom eu não vou mais fazer filmes”, porque fazia filmes pra ele, com ele, etc. Então, esse filme “Sem título #1: Dance of Leitfossil” é uma tentativa minha de poder não só continuar a viver, respirar e etc., mas a fazer cinema. É um filme de luto, mas também tem um lado epifânico, porque é uma celebração de uma vida. Nós vivemos juntos durante 27 anos e, literalmente, só acabou porque a morte nos separou. O filme tem esse lado melancólico, que é muito próprio do fado, mas também tem um sentimento de gratidão, de êxtase, inclusive por uma vida compartilhada. Isso através do cinema, pois é o seguinte: ele é um programador de cinemateca, eu faço filmes com material de arquivo, ou seja, é uma coisa de arquivo de cinemateca – é orgânico com a minha trajetória e com o que eu sou e com o que eu faço.
Texto e entrevista: Ulisses Arthur
Foto: Pedro Maia
1 Comentários
Luís
25 de janeiro de 2018, 11:51Onde eu encontro esse curta para assistir?
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