O lugar da utopia
Texto de Leandro Rodrigues
A utopia é, por definição, o não lugar. Mas aqui, na EICTV, longe de ser a negação de todos os lugares, a utopia é a que possibilita o ajuntamento criativo de diversas culturas e recria outras formas de ver o mundo.
Inicialmente “Escola de Três Mundos” e logo renomeada “Escola de Todos os Mundos”, a EICTV vem se dedicando ao longo de quase três décadas de fundação a uma prática pedagógica regida pela filosofia do “aprender fazendo, fazer ensinando”, através da qual a aprendizagem se dá numa combinação permanente entre as experiências prática e teórica.
Neste lugar, o lugar da utopia, que não por acaso segue existindo em Cuba, aprender a fazer cinema é um ato de resistência, um gesto que aposta na capacidade de reinvenção das imagens, uma ação em busca de vivências cinematográficas transformadoras.
Os filmes dessa mostra nasceram como resultados de processos de aprendizagem, mas se estabelecem no mundo como gestos de investigação cinematográfica. Filmes que representam a busca individual de cada cineasta por um estilo próprio e que encontram no contexto de formação da EICTV uma abertura à experimentação e um espaço de ampla diversidade cultural. Filmes realizados por jovens de diferentes lugares do mundo que escolheram viver em Cuba a utopia do cinema.
O nosso desejo ao trazer esse singelo conjunto de filmes para o Cachoeiradoc é para que, como disse o cineasta e poeta Fernando Birri, “el lugar de la utopía, que, por definición, está en ‘Ninguna Parte’, esté en alguna parte…”
Abecé
Cuba, 2013, 15 min.
De Diana Montero
Dia 2/9, 14h
Leoneidi, 12 anos, está casada com um homem mais velho. Sua rotina se divide entre brincadeiras de criança e o cuidado da casa, incluindo do seu filho recém-nascido. Ela diz: “Amor não tem idade”.
Toma dos
Espanha/Cuba, 2012, 11 min.
De Pilar Alvarez
Dia 2/9, 14h
Adi e Guito encenam um evento traumático que ocorreu em um momento crítico do relacionamento. A encenação revelam que, apesar da aparente tranqüilidade do casal, ainda existem algumas questões pendentes.
El Receso
Cuba, 2012, 12 min.
De Damián Sainz Eduardo
Dia 2/9, 14h
Salvador Montero , um velho camponês da Sierra Maestra se debate entre duas histórias: a história oficial da nação cubana cheia de vitórias e alegrias, que escuta pelo Rádio relógio sem parar e a sua pessoal, atravessada pela desilusão e desencanto.
El Árbol
Irã/Cuba, 2014, 13 min.
De Roya Eshraghi
Dia 2/9, 14h
No processo de investigação de personagem, a diretora iraniana encontra uma árvore no quarto piso de um edifício em ruínas e percebe que esta representa sua própria história de exílio.
Escenas prévias
Polônia/Cuba, 2012, 28 min.
De Aleksandra Maciuszek
Dia 2/9, 14h
Em uma casa antiga e cheia de memórias, um avô cuida de seu neto e de si mesmo. Uma semana passa e nada voltará a ser igual. Com a estética inspirada por litografias de Ars Moriendi – manuais medievais do “morrer bem”, este documentário propõe uma intrigante visão da morte que sempre, e da maneira mais inesperada, nutre a vida.
Si seguimos vivos
México/Cuba, 2010, 24 min.
De Juliana Fanjul
Dia 2/9, 14h
Um grupo de mulheres, residentes em um asilo em Havana, compartilham o dia-a-dia de emoções comuns.O desgaste do corpo, problemas de saúde e da memória e uma noção muito particular do tempo, representam para elas os temas de interesse e até de verdadeiras obsessões. Dentro desse microcosmo, também há lugar para o humor e para a troca afetiva. Envelhecer não é vergonhoso, é apenas inevitável para se continuar vivendo.