Conferências

A história no filme, o filme na história
Com Cláudia Mesquita
Dia 03/09, às 15h

Vinte anos de história estão contidos em “Cabra marcado para morrer” (1984), obra-prima incontestável que, entre outros trunfos, erigiu uma frágil “ponte” - entre os anos pré-golpe militar e a reabertura democrática, “para que o antes não fique sem futuro e o agora não fique sem passado”, como Bernardet sintetizou em 1985. Mais do que tematizar mudanças históricas expressivas, o filme as abriga em sua forma, nas diferenças entre as imagens que o compõem, na matéria híbrida urdida em sua primorosa montagem. Propomos abordar “Cabra marcado para morrer” como um filme-processo que não apenas conta “sua própria aventura” (Coutinho), mas tem sua forma fendida e marcada pelos “possíveis” do cinema, ao se engajar no mundo, em dois momentos históricos distintos. “A família de Elizabeth Teixeira” nos permitirá estender o arco do cinema-processo de Coutinho até a atualidade, de modo a colocar em jogo e em relação outros tempos, cenas e encontros.

Cláudia Mesquita é professora na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde integra o grupo de pesquisa Poéticas da Experiência. Pesquisadora de cinema, com mestrado e doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), publicou, com Consuelo Lins, o livro “Filmar o Real - sobre o documentário brasileiro contemporâneo” (Zahar, 2008). Organizou, com Maria Campaña Ramia, o livro “El otro cine de Eduardo Coutinho” (Equador: Corporación Cinememoria, 2012), e, com Leandro Saraiva, a retrospectiva Eduardo Coutinho - cinema do encontro (CCBB/SP, 2003). Atuou como pesquisadora em “Peões” (Eduardo Coutinho, 2004).

 

Poesia e História no cinema de Jia Zhangke
Com Cecília Mello
Dia 04/09, às 9h

A conferência vai tratar das indefinições das noções de ficção e documentário no cinema de Jia Zhangke, partindo da definição de Jacques Rancière do chamado “regime estético das artes”. Segundo Rancière, esse regime se caracteriza pela a união entre a Poesia (kath’olon), que para Aristóteles seria feita de ficções, reordenando eventos a partir de uma lógica de causa e efeito e sem compromisso com a “verdade”, e a História (kath’ekaston), condenada a apresentar os acontecimentos segundo sua desordem empírica. O cinema de Jia Zhangke parece muitas vezes resultar da revogação da linha divisória aristotélica entre duas ‘histórias’ – a dos historiadores e a dos poetas, e segue certas tradições filosóficas chinesas que não enxergam a mesma divisão. Assim, gostaria de sugerir que o diretor conhecido como “o poeta da globalização” é também um “historiador” da transformação da China contemporânea, e a combinação desses dois vetores, motivados por um olhar ao mesmo tempo contemporâneo e retrospectivo, faz emergir a atualidade e a força política de seu cinema.

Cecília Mello é professora de cinema na Escola de Comunicações e Artes da USP e Pesquisadora Fapesp na Unifesp Campus Guarulhos, com o projeto “Intermidialidade, Estética e Política no Cinema Chinês de Jia Zhang-ke”. Foi bolsista Fapesp de pós-doutorado (2008-2011, ECA-USP), é doutora em cinema pela Universidade de Londres, autora de diversos ensaios no Brasil e no Reino Unido e organizou com Lúcia Nagib o livro Realism and the Audiovisual Media (Palgrave Macmillan, 2009/2013).

 

Os rasgos e o tecido: montagem e política no cinema de Jia Zhangke
Com Isaac Pipano
Dia 05/09, às 9h

Forjadas no real, urgentes, as imagens de Jia Zhangke estão atadas às transformações intensas decorrentes da parasitagem do capitalismo na China contemporânea. A montagem, por sua vez, assume função preponderante, como o gesto que mobiliza as tensões entre a vida como cena e a mise-en-scène do cinema.

Isaac Pipano é professor de cinema da UFF, fotógrafo e, às vezes, faz filmes. Vive entre o Rio de Janeiro e Niterói. Participa do projeto de cinema, educação e direitos humanos Inventar com a Diferença. Mestre em Comunicação pelo PPGCOM-UFF com trabalho sobre o capitalismo contemporâneo, a cidade e a memória no documentário de Jia Zhangke.

 

Mesa Redonda: Resistir Hoje
Com Ernesto de Carvalho e Josias Pires
06/09, às 11h

Através da exposição de experiências e processos documentais, propõe-se uma reflexão sobre a maneira como o documentário tem se inscrito nas manifestações sociais, tornado-se parte constituinte desses movimentos, com papel ativo nas suas estratégias de resistência.

Ernesto de Carvalho é fotógrafo, documentarista e antropólogo. Realiza pesquisa de doutorado no Departamento de Antropologia da New York University (NYU), no programa “Cultura e Mídia”. Desde 2007 desenvolve trabalhos junto ao projeto Vídeo nas Aldeias, coordenando oficinas de vídeo em aldeias indígenas em diversas partes do Brasil, além de fotografar, dirigir e editar filmes. Como fotógrafo e documentarista, tem participado ativamente do movimento Ocupe Estelita.

Josias Pires é documentarista e mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia. Foi roteirista e codiretor do filme documentário de longa metragem "Cuíca de Santo Amaro". Fez pesquisa, produção e direção da série de TV "Bahia Singular e Plural", da TVE Bahia. Lecionou em faculdades de jornalismo e de cinema. Atualmente, dirige a realização do filme documentário de longa metragem "Quilombo de Rio dos Macacos".