Nascida em 1943, no Engenho Velho da Federação, bairro popular de Salvador onde passou toda sua vida, Valdina Pinto, conhecida como Makota Valdina, professora, militante negra, ambientalista, defensora dos direitos das mulheres e liderança religiosa, desde a sua juventude já dava lições em palavras e gestos que são cada dia mais atuais. Ela construiu uma trajetória de quem nunca se negou a ir com a sua voz e o seu corpo onde estava a luta, pela vida, pela liberdade, pela justiça e contra o racismo.
E o CachoeiraDoc teve a honra de receber sua presença em muitas de suas edições. Em 2013, na ocasião da Mostra Áfricas: retorno à terra natal, ao debater um dos filmes, ela disse a uma plateia formada majoritariamente por realizadoras, professoras e estudantes de cinema: “veja o quanto essa arte de vocês, essa profissão de vocês pode nos levar muito mais além”. Foi neste ano que Seu Mateus Aleluia, célebre filho de Cachoeira, cantou e tocou ao lado de sua filha e de seu filho, na noite de abertura da quarta edição do CachoeiraDoc. Na plateia, Makota Valdina os acompanhava, cantarolando: “Cachoeira, foi de Luanda que eu percebi a sua realidade. Olhe pra mim, sou de Cachoeira. Peço, falo, canto a sua liberdade”. Mateus Aleluia e Makota Valdina materializavam ali, numa praça de Cachoeira, os elos, cerzidos e recerzidos, entre a África e a Bahia.
Em 04 de dezembro de 2020, pouco mais de um ano depois da passagem de Makota Valdina, o Nzo Onimboyá, terreiro de nação angola fundado sob sua liderança e da Nengwa Vulasese (Maria Angélica Pinto), receberá a visita de Mateus Aleluia. Em uma homenagem a esta que agora é nossa ancestral, será mais uma celebração de abertura do CachoeiraDoc para renovar os laços entre mundos, o passado, o presente e o futuro.