Thinya

Thinya e a possibilidade de reinventar memórias, por Evelyn Sacramento

Em um universo pós-colonial, Thinya (2019), curta metragem dirigido por Lia Letícia, traça um compromisso com as novas possibilidades de imaginar, é o sarcasmo, uma risada na cara da narrativa que se pensa oficial, porém, nada mais é que os primeiros passos da visão eurocêntrica sobre os povos indígenas. 

Thinya é o nome indígena de Maria Pastora, aquela que dá voz ao filme, sua narração em voz off de excertos retirados dos livros Duas Viagens ao Brasil (1557), de Hans Staden e Viagens pelo Brasil (1823), de Spix & Martius, traduzidos para a língua Yaathê dos povos Fulni-ô de Pernambuco, é a trilha sonora que percorre com a câmera, antigas fotografias do cotidiano da sociedade alemã, tiradas entre os anos 60 e 90.

A diretora Lia Letícia lança mão de um álbum de fotografia encontrado num mercado nas ruas de Berlim, ocasião em que ela realizava uma residência artística, juntamente com a narração em voz off, o que vemos nessa composição sonora e visual, é a possibilidade de reinventar memórias, ou de imaginar um novo passado e prospectar o futuro.

Cruzando o real com o imaginado, o filme aflora a imaginação sob uma perspectiva anticolonial, ao passo em que coloca os brancos em uma posição irônica e exotizante, subvertendo o discurso hegemônico acerca dos povos indígenas. Através de uma investigação poética, Thynia nos convoca a questionar a construção da sociedade, expondo sua perversidade a partir das memórias culturais e históricas que as fotografias nos impõe, produzindo deste modo, um cinema que se propõe descolonial, qu ando a h istória é contada conforme o ponto de vista negro e indígena.

Num momento em que a democracia do país está em risco, e o extermínio dos povos indígenas segue sua política genocida governamental que cruza séculos a fio, se faz necessário questionar a história, e trazer para o centro novas formas de pensar as sociedades indígenas através do cinema, que se instaura aqui, enquanto ferramenta questionadora, de enfrentamento e resistência.

Thinya (Pernambuco, 2019, 16 min.)

Direção: Lia Letícia – lia.leticia@gmail.com

Sinopse: Minha primeira viagem ao Velho Mundo. Minha fantasia aventureira pós colonial. [Um discurso muda uma imagem?]