O primeiro dia do VIII CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira foi inaugurado por uma mesa de abertura que definiu bem a essência do evento: um espaço em busca do resgate a histórias que vivem em processo de apagamento, e de batalha contra a colonização da imagem. A sessão foi mediada pelo professores André Brasil (PPGCOM/UFMG), e contou com os oradores Jorge Cardoso (CAHL/UFRB), a curadora do festival, Amaranta Cesar (UFRB), além de Jurema Souza (CAHL/UFRB).
A professora Jurema permanece na mesa para fazer as honras e apresentar uma breve biografia de Cacique Babau Tupinambá, primeiro conferencista do VI Colóquio de Cinema, Estética e Política. Índio de origem tupinambá batizado como Rosivaldo Ferreira de Jesus, Cacique Babau é líder da aldeia Serra do Padeiro (BA) e tem como principal luta a retomada das terras indígenas retiradas ao longo dos processos de colonização pelo não índio. Preso quatro vezes devido às denúncias contra o preconceito aos povos indígenas e crimes ambientais, cacique Babau é incisivo ao relatar a importância da luta pela terra. “Pelo chão onde plantamos nossa coletividade, ali vale nossa resistência. Isso vale a pena morrer para preservar”. Ao final, ele defendeu a autonomia econômica do índio como ser autêntico, que mesmo assimilando aspectos de outras culturas, não perde a essência indígena, e apontou a importância da mulher como figura principal para produtividade da aldeia e perpetuação da cultura.
Durante a tarde, aconteceu a segunda sessão de conferências, Imagens que chamam, imagens xamânicas, mediada por Luciana Oliveira (UFMB) e representada pelos oradores Genito Gomes, líder de origem guarani e kaiowá, seu sobrinho Jhonatan Gomes, rapper, e por Rosângela Tugny (UFSB). Luciana inicia defendendo o espaço de trocas da Universidade como um meio aberto para todos os intelectuais, abrindo as portas para o discurso de Genito Gomes, que durante sua fala narrou seu percurso contra a escolarização e em busca dos saberes que o aproximam do seu povo. O pelejo das lutas pela demarcação das terras indígenas é um dos legados deixado ao sobrinho Jhonatan, rapper de discurso objetivo e que se define como guerreiro, tendo adquirido conhecimento de seus avós.
Vincent Carelli fechou a noite com a exibição comentada do filme “Adeus, Capitão”, que narra a busca dos índios tucaré pela reaproximação de sua cultura e linguagem, após anos de distanciamento devido a ações violentas e arbitrárias de não índios. Este retorno é personificado a partir da presença e memória do Capitão, membro mais velho dos descendentes tucaré. A valorização dos saberes bem como a perda ocasionada pela sua morte guiam a narrativa e se apresentam ao público como um retrato de resistência e retomada de suas raízes.
O CachoeiraDoc continua até o dia 10/09, com mais colóquios, sessões de filmes e shows para finalizar a noite. Acompanhe a programação e participe do evento!
Confira algumas fotos e um vídeo sobre este primeiro dia: