A programação da manhã do quinto dia de atividades do CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira, exibiu a Mostra Memórias das Lutas, desta vez trazendo a curadoria de Nicole Brenez. Lançados em 2015, Los(De)Pendientes, do diretor Sebastian Wiedemann, e Une Jeunesse Allemande, dirigido por Jean-Gabriel Périot, são dois filmes de crítica revolucionária, e que nos faz observar as lutas empreendidas fora do Estado brasileiro, mas que se comunicam e repercutem em escala global.
As outras sessões apresentadas dia 08 de setembro no Cine Theatro Cachoeirano foram todas Mostras Competitivas. A sessão das 14h, apresentou quatro curtas-metragens lançados em 2017. Admin Admin questiona os modos de vigilância que expõem a sociedade e que colocam como justificativa a proteção do cidadão, deixando para o coletivo Feito a Facão o desafio de falar além do que as imagens já mostram. Em Balança Brasil, do diretor Carlos Segundo, a tarefa foi a partir de um roteiro mínimo e de uma equipe de produção reduzida, transmitir movimento entre corpo e mente. Terminal 3, dos diretores Thomaz Pedro e Marques Casara, chama atenção para uma das maiores feridas do país e do mundo: o trabalho escravo que ainda aprisiona seres humanos e tira sua dignidade, modo que a multinacional OAS utilizou durante a construção do terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos, e que continua sendo utilizado por outras grandes empresas. Já Latossolo, busca representar a relação de trabalhadores agrícolas com o trabalho e ambiente da cidade de Mimoso do Oeste, região de origem do diretor Michel Santoso.
A tarde, as competitivas continuaram. O primeiro filme exibido, Historiografia (2016), da diretora Amanda Pó, questiona o apagamento da presença feminina ao longo da história mundial narrada, apresentado mulheres que tiveram forte atuação social, mas que foram silenciadas por uma preponderância no registro da figura masculina. Já Anamnese (2016), do diretor Clementino Junior, questiona a contenção da presença do negro na posição de médicos e enfermeiros, enquanto corpos negros mortos eram constantemente utilizados em pesquisas da anatomia humana. Escolas em Luta (2017), dirigido por Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli, vai para as ruas junto com os estudantes da rede pública de ensino do estado de São Paulo, que organizados por meio de redes sociais e aplicativos, unem-se em protesto ao decreto oficial que determinava o fechamento de 94 escolas e realocação dos alunos. Os estudantes vão a luta pelos seus direitos, ocupando 214 escolas e indo às ruas para protestar. Uma verdadeira Primavera Secundarista.
A noite, programação dupla. A Mostra Competitiva Mantêm-se no Cine Theatro Cachoeirano com a força das mulheres em Elas Continuam Lutando, dos diretores Viny Psoa e Lívia Perez, e o triste relato de Mataram Nossos Filhos, dirigido por Susanna Lira. Enquanto isso, a Mostra Corpos em Luta exibi em sessão especial os filmes Desmonte, do diretor Jorge Cardoso filho, e Onde Começa o Rio, de Julia Karam, Maiara Mascarenhas, Maria Cardoso e Pedro Severien. O primeiro, um filme performance que trata da péssima educação oferecida aos nossos jovens, temática trazida também no segundo filme, que exibe as histórias e ideais dos estudantes universitários participantes das ocupações contra a PEC do Fim do Mundo, no final de 2016.
Para curtir bem o final da noite de Cachoeira, a banda Funfun Dúdú, que na língua Yourubá significam as cores branca e preta, acende o astral com a fusão dos extremos – a “quebradeira” das quebradas e a elaboração das notas de músicos experientes na cena da música popular e experimental.
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