“Peço licença aos mais velhos, minhas mães e meus pais aqui presentes”. O terreiro, as Imagens, terceira sessão de colóquios do CachoeiraDoc abriu o segundo dia do festival com uma lição de respeito a sabedoria de nossos mais velhos. O conhecimento e experiência compartilhados faziam entender bem a desconfiança que os representantes do Candomblé, convidados da mesa, têm em relação à Universidade, carregada de modos de produção e de pesquisa, que durante o tempo negaram os saberes ancestrais aprendidos a partir da oralidade. A produção de cultura e arte vem antes de terrenos afastados da academia e que são largamente encontrados na natureza, aprendizado trazido por Makota Valdina, integrante da mesa e líder do Terreiro Tanuri Junsara, localizado no Engenho Velho de Brotas da Federação, bairro da cidade de Salvador, capital do estado baiano.
Além de Makota Valdina, participaram da mesa Makota Kidoiale, representante do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango e membro do Conselho de Políticas Públicas de Belo Horizonte; Mãe Marí do Terreiro Ilê Axé Pakolè; Ogan Tatá Marcelino, representante do Terreiro Zogodô Malé Daho Taby e da Fundação Casa Paulo Dias Adorno; Pai Idelson do Terreiro Ilê Axé Ogunja; e Pai Ricardo, da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente. O debate entre os integrantes da mesa e a plateia foi mediado por César Guimarães, coordenador do Grupo de Pesquisa Poéticas da Experiência (UFMG).
É preciso libertar o conhecimento para que os jovens possam buscar seu próprio aprendizado dentro e fora das Universidades, e abandonar de vez os exotismos, que julgam e ferem a imagem do candomblé, sustentados por visões distanciadas. A importância de respeitar o sagrado terreno do candomblé é chave para acompanhar o debate, que chama atenção para a manutenção de práticas que perpetuam o preconceito e desrespeito ao negro: “Toda forma de racismo que sofremos atinge o Candomblé. A forma como as pessoas encaram o Candomblé é a forma como encaram cada cidadão negro no Brasil”, mais uma vez palavras de Makota Valdina, a mais velha entre os representantes da mesa.
Para os integrantes do colóquio, a necessidade de ter um cinema que respeite as identidades e o sagrado do outro é herança a ser levada pelos acadêmicos, cineastas e pesquisadores presentes, questão que muitas vezes foi deixada de lado e agora tem sua atenção convocada.
O chamado para perceber outras identidades foi encontrado novamente nos outros dois colóquios do dia As Imagens da Diáspora e Territórios, modos de vida, retomada das imagens. Um mapa-múndi é exibido em busca de representar os muitos terrenos, os espaços pouco iluminados do planeta onde se produz culturas e artes pouco observadas, mas resistentes. Enquanto isso, num pequeno ponto de Simões Filho, interior da Bahia, a comunidade quilombola Rio dos Macacos tem seu cotidiano devastado pela arbitrariedade da Marinha brasileira, descrente dos outros que ali criaram raízes e de onde tiram sua força. A sessão de abertura contou com a participação de Josias Pires, diretor do filme Quilombo Rio dos Macacos, exemplo que nos lembra de persistir nas lutas e agir em busca de justiça.
Para marcar o início das noites de festa, o Samba Chula de São Braz tocou às 22h, animando a praça Teixeira de Freitas e abrindo caminho para os próximos shows. O VIII CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira, continua até dia 10/09. Acompanhe a programação e participe do festival!
Confira fotos:
Vídeo da Abertura do CachoeiraDoc: